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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Fomos de algo.

Fomos de ônibus, fomos de metrô
Fomos de dentro, fomos de fora
Fomos de bar em bar
Fomos de barca, fomos de carro.

E aquele português?
Todos o achamos engraçado, não foi?

Fomos de copo, de bebida engraçada
Fomos de carne, fomos de peru
Fomos de lágrimas, fomos de sorriso
Fomos de avião, fomos de barca, fomos de ônibus, fomos de metrô, fomos de trem.
Fomos felizes na Páscoa

(São Paulo 04.04.1983)

Fora do papel. Na cadeira.

Vantagens técnicas e econômicas
Pelas vantagens técnicas e econômicas!
Pela substituição!
Pela melhor utilização!
Sobre o jornal, sobre o futuro
Sobre o jornal, sob a notícia
A notícia diária
Pelas vantagens técnicas, econômicas, viabilidade...
Tenho estado na cadeira
Tenho estado fora do papel
- o meu papel????
Surjo às oito da manhã,
junto com as notícias do rádio, do jornal, da televisão.
- o meu papel????
Tenho estado na sala, no meu espaço quadrático, equilátero etc.
- o meu espaço???? Onde????
Capto o tic-tac do relógio, espero o almoço, engulo, degluto, ando, subo.
Tenho estado na sala, no meu espaço quadrático, equilátero etc.
- o meu espaço???? Onde????
Aguardo pelo fim do fim
Enfim, para que o fim, do sem fim?

(São Paulo 04.04.1983)

Junto com essa gente

Tenho andado sozinha
Em meio a tanta gente
Gente estranha que vem e que vai
Não sei bem de onde
São caminhadores, tentadores
Parecem as ondas do mar
Um dia longe, um dia perto
Sempre a caminhar.

Bem sei, andei junto com essa gente
Adentrei ao mar, sorvi suas ondas
Velejei, através de meus pensamentos
Por lugares distantes e logo voltei
Essa gente estranha que vem e que vai
Não sei bem de onde.

Ah! Esse mar, se não fosse o mar!
O que seria de mim?
Quem absorveria tão bem os meus pensamentos?
Quem me deixaria navegar nas ondas distantes?
Sem sequer me questionar?
Só você, o mar!

Guarde os meus segredos
Os meus dofrimentos
Os meus desencantos
Os meus temores
As minhas dores
Até quando, não sei!