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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A poesia do tapete

Sento-me nesta velha cadeira, começo a tecer o fio, ponto por ponto. A agulha e a linha fluem sobre os meus dedos. O que antes estava esquecido ganha forma. Como a poesia precisa da simetria das palavras, o tapete precisa da simetria dos pontos. Daí, a forma e a rima. São onze pontos de um lado. São onze pontos do outro lado, para a rima ser perfeita. Um só descuido e, tudo sai errado. Aí, não dá para apagar. É preciso tudo desmanchar, para de novo começar. Durante o ato de tecer grito: que delícia! E, a minha imaginação voa longe. Vagueia, viaja. Esqueço do tempo! Quando os meus casados pés se assentarem sobre ele Olharei para cada ponto e direi: deles depende a poesia do tapete. Cristina Pavarini Natal, 7 de agosto de 2015

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

No vazio, apenas, fora do coração.

SE A PORTA DO QUARTO NÃO SE ABRIR. SE A CAMA ESTIVER VAZIA. SE NÃO ME FIZER COMPANHIA PARA O CAFÉ DA MANHÃ, NÃO VOU CHORAR. SE NÃO DISSER, ATÉ MAIS TARDE, TODOS OS DIAS, SE A CAMPAINHA DA PORTA NÃO SOAR NA HORA DO ALMOÇO. SE SOBRE A MESA TIVER UM PRATO A MENOS, NÃO VOU CHORAR. SE NÃO CHEGAR, DEVAGARINHO, SEM AVISAR, QUERENDO ME ASSUSTAR, SE NÃO ESCUTAR MAIS OS RELATOS SOBRE OS SEUS SONHOS. SE NÃO ESCUTAR AS SUAS ESTÓRIAS ENGRAÇADAS, DURANTE AS REFEIÇÕES, NÃO VOU CHORAR. PORQUE SEI QUE VOCÊ ESTARÁ LÁ DO OUTRO LADO DA CIDADE, A ALGUNS METROS APENAS. BASTARÁ QUE EU TELEFONE PARA OUVIR A SUA VOZ. BASTARÁ QUE EU CAMINHE ALGUNS MINUTOS PARA PODER ENCONTRÁ-LO. BASTARÁ QUE EU OLHE A SUA FOTO PARA MATAR A SAUDADE. MAS, E, PRINCIPALMENTE, BASTARÁ QUE EU BUSQUE DENTRO DA MINHA ALMA A IMENSIDÃO DO AMOR QUE SINTO, POIS VOCÊ ESTARÁ LÁ. SÓ QUE NÃO ESTARÁ SOZINHO AGORA EU SEI. HOJE DOIS. AMANHÃ, QUEM SABE, TRÊS OU QUATRO. ASSIM, O ESPAÇO QUE UM DIA PARECEU VAZIO SE PREENCHERÁ NÃO HAVERÁ SUBTRAÇÃO, MAS SOMA E MULTIPLICAÇÃO. E NÃO SE ESQUEÇAM. ESTAREI SEMPRE POR PERTO PARA AJUDAR A CUIDAR DOS SEUS PEIXINHOS!!!!!!!!!! Fotos: Gustavo Rocha

Dê tempo ao tempo – Parte III

A minha aposentadoria chegou cedo. Comecei a trabalhar ainda na adolescência e com 30 anos de contribuição à previdência oficial achei que era o tempo de parar. Não foram mais que seis meses em casa, para que eu sentisse a necessidade de voltar a exercer atividades que não aquelas de cunho doméstico. Como estava cursando mestrado resolvi me entregar mais a um trabalho voluntário, o qual exercia em uma instituição educacional. Essa foi uma decisão acertada, naquela ocasião. Eu era capaz de conciliar muito bem tudo o que precisava fazer durante o dia, incluindo os meus estudos e os cuidados com a família. Para isso bastou um bom planejamento. Em determinado momento a minha vida mudou, radicalmente, quando resolvi mudar-me para Natal. Mais uma vez, entrou em ação o planejamento, pois à medida que o tempo passava aumentava a quantidade de tarefas e as responsabilidades também. Nada que eu não conseguisse realizar a contento. Em dezembro do ano passado, após 12 anos, resolvi parar com as minhas atividades externas e ficar em casa. “Ficar em casa?”. Todos me perguntam: você não está mais trabalhando? E fico indignada, pois acredito que muitas pessoas não se dão conta da complexidade que é dar conta das tarefas domésticas. Pois é, estamos em setembro, são oito meses dedicados quase que, exclusivamente, a tarefas domésticas. E, é claro já estou começando a pensar em voltar a me dedicar à minha profissão. Nesse meio tempo, as minhas atividades voltadas ao trabalho voluntário, nunca deixaram de acontecer. O que gostaria de salientar com esse relato é, justamente, a avaliação que fazemos do nosso tempo (relacionado ao relógio mesmo), no que diz respeito ao desenvolvimento das tarefas diárias. Em toda a minha vida, fui movida por uma dinâmica de trabalho, de estudo, de prática religiosa, de esporte, de cultura e de lazer. Essa rotina permite que eu nunca esteja desligada do mundo. Ao acordarmos todos os dias devemos pensar que tais dias representam jóias raras e de extrema beleza em novas vidas. E, por serem jóias preciosas devem ser lapidados e cuidados com muito carinho. Para tudo o que fazemos devemos dar um sentido especial, para que possamos nos sentir realizados. Cada tarefa tem uma razão de ser, quer seja no âmbito doméstico ou fora dele. Como cidadãos, temos as nossas responsabilidades e como membros de uma família, também. Quando planejamos bem o tempo somos capazes de realizar inúmeras atividades. E, se não for possível a realização de alguma atividade naquele determinado dia ou naquele determinado momento, deixemos para outra hora. Afinal, planejamentos devem ser revistos, sem culpa. Não esqueçamos de planejar algumas horinhas dedicadas ao ócio, afinal, ninguém é de ferro.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Dê tempo ao tempo – Parte II

Uma das leis morais é a do progresso. Está descrito na natureza. E para que haja o progresso o ser humano precisa estar em constante processo de criação e execução. Porém, embora alguns não queiram conversa com a labuta, outros não conseguem parar de trabalhar ou de estudar. Estão sempre inventando algo para fazer. No universo dos que não conseguem ficar parados existem os extremamente organizados que conseguem obter excelentes resultados ao final do dia e aqueles que fazem, fazem e quando olham para trás o seu meio ambiente está um verdadeiro caos. A pilha de papel cresce a cada dia, a casa, o carro, a vida, enfim, são uma bagunça só. Diversos são os livros e os cursos que ensinam como melhor administrar o tempo e como ser um profissional, um estudante, um pai ou uma mãe organizados, ou tudo isso junto e conseguir dar conta das responsabilidades sem adoecer física e psicologicamente. O que os autores, especialistas em administração do tempo, buscam ensinar são maneiras adequadas de se organizar as tarefas diárias. Os autores entendem que as pessoas melhoram a sua qualidade de vida se souberem administrar bem o seu tempo, principalmente no trabalho. Os atos de criar e executar são saudáveis, portanto, devem ser leves e não sacrificantes. Administrar bem o tempo permite que estejamos em vantagem diante de um universo onde avançar é sinônimo de vencer competições. Para podermos nos considerar profissionais de ponta precisamos agregar algumas vantagens competitivas ao nosso portfólio pessoal. Gerenciar o tempo é uma delas, da mesma forma que gerenciamos outros aspectos de nossas vidas. Se raciocinarmos que o jargão “tempo é dinheiro” tem um fundo de verdade, não estaremos enganados e ainda poderemos acrescentar que tempo é sinônimo de qualidade, produtividade e porque não dizer de inovação. As mudanças em nosso ritmo diário exigem ações focalizadas para assim alcançarmos maior produtividade e resultados vantajosos. O planejamento de nossas tarefas diárias pode ser uma maneira adequada de ajudar a sermos bem sucedidos. A administração do tempo inclui selecionar as tarefas prioritárias e anotá-las em uma planilha ou agenda. Muito mais do que organizar uma agenda, planejar significa exercitar a nossa capacidade intelectual. Certamente, vale incluir as horas destinadas ao lazer e aos exercícios físicos, obrigando-nos a cumpri-los como medidas para aumentarmos a nossa qualidade de vida. Importante lembrar que, não basta criarmos a nossa agenda, é preciso que todas as pessoas com as quais nos relacionamos, quer seja em casa ou no trabalho tenham conhecimento dela. A agenda deve ser revista, periodicamente, realizando adaptações a medida que julgarmos necessárias, até que obtenhamos os resultados desejados. Quem sabe, incluindo mais momentos de renúncia ao relógio.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Dê tempo ao tempo – Parte I

Mal o dia começa e vem a sensação de não dar conta de tudo o que tenho para fazer. Sem contar que no dia anterior trabalhei muito, fiz tantas coisas que ao me deitar o cérebro ainda estava funcionando a todo vapor. Quando consegui dormir já era madrugada. Recordo-me que estava aborrecida porque o sono não vinha e faltavam apenas poucas horas para o dia amanhecer. Certamente, não poderia dormir até mais tarde. Ai de quem se aproximasse de mim, porque as poucas horas de sono gerariam, sem dúvida, um nível considerável de irritação. A intolerância marcaria o meu dia, desde as primeiras tarefas em casa, pois antes de sair para o trabalho precisaria deixar tudo em ordem. Cuidar da higiene pessoal, arrumar o quarto aonde eu durmo, preparar o café da manhã, colocar água e comida para os bichos, chamar os filhos para levantar, tomar o café da manhã, tirar a mesa, lavar a louça, fazer algumas ligações telefônicas, assistir ao telejornal, me arrumar e dirigir até o trabalho. Ufa! Lá se foram mais de duas horas, antes de enfrentar o primeiro expediente no trabalho. Eu não sou a única a ter uma vida atribulada. Assim como eu, milhares de pessoas distribuem, diariamente, seus afazeres entre trabalhar, estudar e cuidar de familiares. Como se tudo isso não bastasse, ainda envolvemo-nos com a prática de atividades físicas, filantrópicas e religiosas. Temos ainda que pensar nas viagens, nos encontros com os amigos, nas festas, nas sessões de cinema e de teatro, nos shows, nos passeios ao ar livre e também nas conversas com os vizinhos. Sem contar que não podemos deixar de lado os fatos jornalísticos e as redes sociais, nem mesmo os e-mails. O avanço da produção industrial, a partir do século XIX parecia ter vindo para facilitar a vida das pessoas. Mas, ao contrário do que se podia pensar houve um aumento substancial no número de tarefas a serem desenvolvidas pelos homens e pelas mulheres. Nem mesmo as crianças escapam do corre-corre diário, quer seja dos pais ou daqueles que são responsáveis pelos seus cuidados. A complexidade da sociedade contemporânea gerou no ser humano necessidades conscientes e inconscientes capazes de fazer com que as 24 horas do dia sejam insuficientes para que possamos dar conta de nossos afazeres. Quando o dia chega ao fim e estamos física e mentalmente esgotados temos muitas vezes a capacidade de nos perguntar se tudo o que fizemos foi produtivo. A cultura do ócio, da preguiça não nos é permitida, pois precisamos ocupar o nosso tempo de tal forma que ele não represente desperdício. Mas, o que é desperdício de tempo? A quem compete avaliar o grau de produtividade sobre as atividades que exercemos? É uma questão religiosa, econômico-financeira ou psicológica? Ou uma coisa leva à outra? Por que precisamos administrar bem o nosso tempo?

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Fomos de algo.

Fomos de ônibus, fomos de metrô
Fomos de dentro, fomos de fora
Fomos de bar em bar
Fomos de barca, fomos de carro.

E aquele português?
Todos o achamos engraçado, não foi?

Fomos de copo, de bebida engraçada
Fomos de carne, fomos de peru
Fomos de lágrimas, fomos de sorriso
Fomos de avião, fomos de barca, fomos de ônibus, fomos de metrô, fomos de trem.
Fomos felizes na Páscoa

(São Paulo 04.04.1983)

Fora do papel. Na cadeira.

Vantagens técnicas e econômicas
Pelas vantagens técnicas e econômicas!
Pela substituição!
Pela melhor utilização!
Sobre o jornal, sobre o futuro
Sobre o jornal, sob a notícia
A notícia diária
Pelas vantagens técnicas, econômicas, viabilidade...
Tenho estado na cadeira
Tenho estado fora do papel
- o meu papel????
Surjo às oito da manhã,
junto com as notícias do rádio, do jornal, da televisão.
- o meu papel????
Tenho estado na sala, no meu espaço quadrático, equilátero etc.
- o meu espaço???? Onde????
Capto o tic-tac do relógio, espero o almoço, engulo, degluto, ando, subo.
Tenho estado na sala, no meu espaço quadrático, equilátero etc.
- o meu espaço???? Onde????
Aguardo pelo fim do fim
Enfim, para que o fim, do sem fim?

(São Paulo 04.04.1983)