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terça-feira, 24 de agosto de 2010

Quem te conheceu, Carolina, Carola, que siga o teu exemplo.


Todos os dias, o fazer era sempre igual. Mal o sol aparecia, por entre as frestas da janela, e Carolina já estava de pé. Foi sempre assim, faço questão de frisar. De camisola e chinelos de lã, olhava ao seu redor, enquanto o marido ainda dormia. A primeira das tarefas do dia era observar as camas onde os cinco filhos (dois meninos e três meninas) dormiam abraçados por causa do frio intenso.
Os cabelos penteados, os dentes escovados e o rosto lavado. Agora, só restava dar início a uma nova jornada. O leite dentro da caneca sobre a boca do fogão, o bule de café bem quentinho e as fatias de pão dentro da cesta, esperando o momento de receber a deliciosa manteiga.
O cheiro delicioso do café foi o suficiente, para que os filhos, um a um e também o marido adentrassem a cozinha e passassem, sem convite, a sentar-se à mesa. Os bocejos, os cabelos despenteados e as caras de sono se misturaram ao bom dia de Carolina e às suas indagações.
- Todos escovaram os dentes? Lavaram o rosto? Pentearam os cabelos?
- Sim, querida!!!!!
- Sim, mamãe!!!!!!
- Não está me parecendo.......
A cena bucólica caberia muito bem em um comercial de televisão. Dias como esse se repetiram na vida de Carolina, marcados, frequentemente, por fogo e água, que ela administrou com muita maestria.
O roteiro do filme da vida de Carolina teve uma personagem que exigiu dela grandes esforços: o marido. Sim, o marido de Carolina (primeiro e único namorado) deu a ela muitas preocupações como presente de núpcias. O tal não era muito chegado ao trabalho, o que exigiu de Carolina, não só o papel de sustentar os filhos, como também, o próprio, que é claro, tinha dois pequenos vícios: cigarro e bebida alcoólica.
Se pelas diversas atribuições, o dia para ela começava cedo, era natural que terminasse tarde. Precisava dar conta de todas as tarefas da casa e também das costuras (motivo para o ganha-pão).
Queixar-se, para quê? Amava os filhos e também o marido. Ah! Esse, para ela, era um santo, um bom homem, só não tinha sorte para arrumar trabalho. Por outro lado fazia companhia a ela, sentado ao seu lado, fumando um cigarro atrás do outro e proseando enquanto Carolina trabalhava.
Não é preciso dizer que Carolina foi acometida de grave doença pulmonar (fumante passiva). Queixar-se para quê? Amava o marido. Carolina tinha confiança nas próprias forças que a tornava capaz de executar coisas materiais, pois não duvidava nunca de si. O mesmo não se pode dizer de pessoas que pensam o contrário, ou seja, que duvidam de si próprias.
Carolina viveu por mais de 90 anos, criou todos os filhos com desvelo. Viu o marido morrer de enfizema pulmonar, após muitos dias de agonia, internado em hospital. Os filhos, esses lhes deram muitas alegrias. Transformaram-se em executivo, economista, professora, assistente social e advogada. Viu netos e bisnetos nascerem. Tudo isso porque foi capaz de mover todas as montanhas que apareceram à sua frente. Lançou para longe as dificuldades, as resistências, a má vontade, as palavras rudes que teve que ouvir, livrou-se dos preconceitos, do interesse material, do egoísmo, da cegueira, do fanatismo e das paixões orgulhosas.
Dedicou-se dia e noite a uma vida plena de realizações, pois, para ela, ainda existiam as possibilidades de divertir-se. Adorava dançar nas festas realizadas pela família. Sorria sempre para todos que a procuravam. Conselhos, esses não tinha quem não os quisesse dela ouvir. Sentar-se ao seu lado era sinal de boas e longas conversas. Fazia doces, como ninguém. O de banana era o mais disputado pelos irmãos, sobrinhos, filhos e netos.
A fé de Carolina estava na confiança que tinha em tudo o que fazia, ou seja, no cumprimento do seu papel como esposa e mãe dedicada. Ela tinha plena lucidez que a fazia ver, no pensamento, o fim para o qual tendia e os meios de atingi-lo. Caminhou pela vida com a certeza do por que veio ao mundo.
Carolina desencarnou em uma manhã, bem cedinho, como que, para anunciar do outro lado da vida, que sua nova jornada começaria da mesma maneira como na terra: assim que o sol despontasse no horizonte. Mulher calma na luta, demonstrando sempre sinal de força.
Quantas carolinas estão espalhadas pelo mundo, servindo de exemplo para muita gente. O poder da fé está - como descrito no Evangelho - em acreditar que podemos vencer sem presunção, longe do orgulho, mas ao contrário, aliado à humildade, na capacidade de se confiar em deus, mais do que em si mesmo. Se essa capacidade for mobilizada, os bons espíritos se incumbirão de nos ajudar.
Fé é energia latente. O poder da fé recebe uma aplicação direta e especial na ação magnética. Por ela, o homem age sobre o fluido agente universal, lhe modifica as qualidades e lhe dá uma impulsão, por assim dizer irresistível. Se, através da fé, Jesus curava os doentes e se ele disse que podemos fazer o que ele fazia e muito mais, quem poderá nos dizer o contrário? Acordemos cedo, todos os dias, como Carolina fazia e busquemos essa energia dentro de nós, aliada à energia do universo e transportemos todas as montanhas que estiverem impedindo a nossa caminhada, porque a nós, deus confiou a evolução espiritual.