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domingo, 13 de novembro de 2011

A plateia é o palco

Antes de começar o espetáculo foram quarenta minutos de espera. O público adentrando ao teatro era a apoteose por excelência. Cada um que chegava, enquanto se acomodava era foco dos olhares dos que já estavam sentados. Os comentários se faziam ouvir, os burburinhos e risadinhas permitiam ver que além do espetáculo existia por trás a fofoca, o disse me disse. Quem precisa de atores no palco, se a própria vida na plateia se constituía num palco armado.
Tinha também aquele grupo de alegres jovens turistas, um deles não tão jovem, cujas características dos comentários apontavam para um espetáculo à parte. Falavam de tudo, da cortina de veludo do palco, que para um deles causava “nojo” porque era escura e achava que nunca tinha sido lavada. Enquanto outro tecia elogios e fazia alusão ao “bandô” da cortina, que apesar de antigo, tinha um charme incrível.
Rodeados de senhoras, cheirando a todo tipo de perfume e exibindo vestidos com brilho, maquiagem pesada e cabelos escovados, os alegres jovens teciam seus comentários e cantarolavam em espanhol. O evento era de arrasar qualquer coração desavisado.
Vale à pena sair de casa num sábado à noite para desfrutar das “maneirices” que a sociedade urbana oferece. O comportamento humano se traduz das mais diversas formas. Agora, imaginem quando um grupo se arrisca a sentar-se na plateia para ser palco de comentários. Bem vindo ao espetáculo!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Criei uma imagem para punir meus sentimentos


Sonhei que ele estava negro como um carvão. Seu rosto, que eu conseguia ver nitidamente, tinha muitas rugas profundas, por toda extensão. Olhava para ele e só pensava a razão pela qual sua pele tinha envelhecido mais do que a minha e por que sua beleza física tinha desaparecido. Ao mesmo tempo, percebia que o amor que, um dia senti por ele, ainda não tinha morrido.

Tinha algo em suas mãos que me apontava, junto com um pedido de ajuda, que eu negava. E quanto mais eu negava o seu pedido, mais nítida ficava a imagem de seu rosto. Que pedido era esse e, a razão por não atendê-lo não me é clara. Também não sei a razão de ter sonhado com ele, após tantos anos que não nos vemos. O homem com o qual tive o meu primeiro filho surgiu em sonho transformado pelo meu inconsciente de forma tão punitiva.

Qual o significado da transformação, o que representa o seu rosto marcado por inúmeras rugas e em tom escuro e sem vida? O que gravamos em nossas mentes e o que tais mensagens nos trazem, sem que estejamos de forma consciente ligados aos acontecimentos? De fato são incógnitas, que talvez em algum outro momento possamos obter a resposta fora da linguagem metafórica.

A verdade é que mesmo que possamos nos separar fisicamente das pessoas, que imaginemos ter resolvido as nossas diferenças, ou ao menos tentado resolvê-las, os sentimentos gerados não são extraídos por completo. Fica sempre algo guardado que a memória do tempo não consegue apagar. Quando vêem à tona mexem conosco e nos fazem rever certos conceitos que julgávamos enterrados para sempre.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

1º Concurso de Fotografias Históricas do Natal


Este ano, a 5ª Caminhada Histórica do Natal vem com uma grande novidade: o 1º Concurso de Fotografias Históricas do Natal. O Concurso tem à frente da organização professores e estudantes do Curso de Publicidade e Propaganda da Fatern. O envolvimento dos estudantes do Curso de Publicidade, comandados pelo professor Jean-Claude é um dos aspectos positivos do evento. Até excursões em grupo para fotografar os prédios históricos foram programadas.

A euforia é grande, movimentando toda a cidade, com cliques de fotógrafos profissionais e amadores. Importante ressaltar a categoria de fotografia pinhole, técnica que, modéstia à parte, os estudantes de Publicidade da Fatern são experts. Vamos ver se algum deles será premiado.
E por falar em prêmios, os premiados serão conhecidos na festa de encerramento da Caminhada que acontece dia 28 de maio de 2011, na Rua Chile, localizada no antigo bairro da Ribeira.

A finalidade do Concurso é preservar a memória histórica da cidade do Natal, a partir dos referenciais arquitetônicos da cidade; estimular a produção artístico cultural por meio da difusão da produção fotográfica; valorizar e revelar novos talentos na fotografia; premiar as melhores imagens resultantes deste concurso; expor as fotos selecionadas no local de encerramento da V Caminhada Histórica da Cidade do Natal e utilizar as imagens em eventos, exposições, mostras ou mídias que incentivem a produção artística, educativa ou cultural.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Visita matinal ao pé de acerola


Uma das coisas que mais admirava, quando visitava a minha tia Áurea eram os pés de acerola que ela tinha nos fundos do quintal da casa. Foram muitas as vezes que, em criança ou na fase adulta, passei as férias em sua casa. E as visitas aos pés de acerola eram uma constante. O cheiro da terra vermelha, regando as plantas e o verde das folhas misturadas ao vermelho das frutas me enchiam de encantamento.

Há três anos quis copiá-la e plantei um pé de acerola no fundo do quintal de minha casa. E este ano, como que por encanto, o pé cresceu rapidamente e começou a frutificar. A primeira flor me encheu de ânimo, teria finalmente, a produção de frutas. E a surpresa maior veio quando a primeira fruta apontou. Enorme, maravilhosa. Dai pra frente foi só esperar. Todos os dias aquela coisinha bonitinha e gostosinha. Quando acordo, bem cedinho, me levanto e vou até o quintal visitar o pé de acerola e aproveito para enviar meus pensamentos para a minha tia Áurea.

Foto: Marco Tulio de Lima e Carlos

Sob dois pontos de vista: a vida presente e a vida futura.


“MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO” – Assim disse Jesus, para poder explicar que a Terra não era a nossa morada eterna. E que as vaidades terrenas não faziam do ser humano um ser melhor.

Temos o exemplo de dois espíritos que habitaram a Terra no século passado: Adolf Hitler e Madre Teresa de Calcutá. Dois pontos de vista completamente diferentes a respeito da vida. A vida para Hitler resumia-se no aqui e agora. Ele dirigiu todos os seus pensamentos, enquanto esteve encarnado, sobre a vida terrestre, incerto do futuro.

Para ele os bens mais preciosos estavam em sua vida presente e apenas na Terra. Hitler não mediu esforços para conquistar o que para ele julgava ser o seu maior ideal enquanto ser humano. Nas análises de Kardec, em o Evangelho Segundo o Espiritismo, o indivíduo que age assim, “é como a criança que não vê nada além dos seus brinquedos, para obtê-los não há nada que não faça”.

Para esse espírito, exterminar as pessoas que, ele julgava, não tinham o direito de habitar o planeta, era como ganhar brinquedos. Por isso, de acordo com relatos históricos, a perda dos brinquedos levou-o a uma tristeza profunda. Assim, a única saída encontrada foi o suicídio.

Hitler exterminava almas e Madre Teresa de Calcutá salvava almas. Para Madre Teresa, a vida terrestre era encarada sob o ponto de vista da vida futura. Mulher de baixa estatura, corpo franzino e ao final da vida, arqueado, tinha o respeito de homens poderosos.

Não foi sempre assim, para levar adiante o que julgava ser o bem mais precioso, o amor ao próximo, ela enfrentou além das dificuldades financeiras, algo muito mais difícil, a cultura indiana que não aceita recolher os moribundos para cuidar deles. Para Madre Teresa, a lição descrita por Kardec, lhe era inata, ou seja, “a Humanidade como as estrelas do firmamento, se perde na imensidão”.

Ela sabia, “que grandes e pequenos estão confundidos como as formigas sobre um torrão de terra; que proletários e potentados são do mesmo talhe, e lamenta esses homens efêmeros que se dão tanta inquietação para conquistar um lugar que os eleve tão pouco e que devem manter por tão pouco tempo”.
Enquanto Hitler achava que ao estar se ocupando mais com as coisas da Terra estava ajudando a humanidade a chegar à perfeição física, Madre Teresa achava que ao se ocupar com as coisas da Terra estava ajudando a humanidade a chegar à perfeição espiritual.

Hitler procurava “instintivamente” seu bem estar, através de suas ações maléficas. Madre Teresa de Calcutá procurava “instintivamente” seu bem estar, através de suas ações benéficas. Por ela ter a certeza de não estar por muito tempo na Terra desejava fazer o melhor. Do seu ponto de vista, Hitler talvez julgasse estar fazendo o melhor. Foi o caminho por ele escolhido para agir enquanto encarnado.

Uma diferença grande no que diz respeito ao ponto de vista de cada um dos nossos dois exemplos. Kardec explica que, “a procura de bem estar força o homem a melhorar todas as coisas, possuído que está do instinto do progresso e da conservação, que está nas leis da Natureza. Ele trabalha, pois, por necessidade, por gosto e por dever, e nisso cumpre os desígnios da Providência que o colocou sobre a Terra para esse fim”.

Ai reside a diferença entre os dois espíritos. Deus não condena os prazeres terrestres, mas o que aconteceu no caso de Hitler? Nada mais do que abuso, em prejuízo das coisas da alma. Se ele tivesse em sua alma presente e viva a frase de Jesus “Meu reino não é deste mundo” não seria o homem pobre que perde tudo o que possui e se desespera.

O ditador alemão desconhecia a vida futura, por isso disseminou ideias anti-semitas por todo o mundo e foi responsável pelo extermínio de milhões de pessoas, que nunca sequer tinha cruzado o seu caminho. Madre Teresa de Calcutá dedicou sua vida ao auxílio dos pobres e famintos, pois, instintivamente, sabia que essa vida não é senão um elo no conjunto harmonioso e grandioso da obra do Criador.

Kardec aponta que para o Espiritismo essa vida, “liga todas as existências do mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo e os seres de todos os mundos”. Por outro lado, a doutrina da criação da alma no momento do nascimento de cada corpo, torna todos os seres estranhos uns aos outros”. Do seu ponto de vista, Hitler ou Madre Teresa de Calcutá?

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Educação, cultura de paz e tolerância religiosa contam com música, dança e prosa.


A cidade do Natal foi escolhida para sediar, em 2011, ó Fórum Permanente de Educação, Cultura de Paz e Tolerância Religiosa. O evento aconteceu no último dia 21, no auditório da Livraria Siciliano. Dentre os presentes, o cantor e compositor Carlos Zens, o grupo musical Auta de Luz, além de amigos e seus convidados. A palestra ficou a cargo de Adilson Marques, que veio de São Carlos para falar do projeto e passar as orientações.

O pessoal do Auta de Luz encabeçará o projeto e abre o convite para quem mais quiser contribuir. Segundo os seus integrantes, esta é “uma proposta idealizada com o objetivo de contribuir com as mudanças de atitudes, visando à promoção dos valores da cultura de paz e o respeito à liberdade de expressão religiosa”. Para os organizadores, “durante o ano de 2011, o fórum proporcionará diversas ações educativas para que as pessoas possam refletir de que forma poderão contribuir com a paz, com a boa educação, com o bem viver, com a evolução do planeta”.

A ideia principal é “caminhar cada vez mais para uma convivência mais fraterna e humana”, comentaram os organizadores. Deixando de lado as informações e passando para a opinião, a noite foi de agradável para mais. Não houve dúvidas sobre mais um momento de confraternização entre os presentes e sabemos da contribuição e da presença da espiritualidade superior no espaço reservado para o evento. As músicas e poesias dos componentes do Auta de Luz, a fala suave do Adilson Marques e a dança circular, promovida pela Soraia foi linda!!!!.

Muitas serão as atividades promovidas pelo Fórum, para o ano todo, que terão a arte como instrumento primordial de educação e de transformação, envolvendo palestras, seminários, danças circulares, oficinas e encontro de animagogia. “Sabemos que ao longo de toda nossa história humana foi e é visível que instrumentos como a música, a dança, a poesia, a palavra, entre tantos outros, foram e são elementos primordiais no auxílio à congregação de todos os povos”. Essa foi a mensagem, durante a abertura, deixada pelos organizadores.

Vejam links dos vídeos
vídeo 1 - http://www.youtube.com/watch?v=dKtaJ6DdGkw
vídeo 2 - http://www.youtube.com/watch?v=KuFSz2K0Shg
vídeo 3 - http://www.youtube.com/watch?v=kIEAbs4ZdMY

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ivo Rodrigues. A natureza sob as lentes de um poeta.


Talvez se eu tivesse atravessado a rua em outro ponto, jamais o tivesse conhecido. Mas, isso não aconteceu. Desta vez, a viagem a Galinhos permitiu que conhecesse Ivo Rodrigues, o poeta das mil e uma palavras. Até que ele não se identificasse, poderia ser confundido com um cidadão comum do lugar. Mas, aos poucos ele foi soltando o verbo, ou melhor, os versos, relacionados a cada assunto que eu puxava.

Falou da cidade, do estado, dos políticos, da história e até do mestre Cascudo. Tudo isso em forma de versos, que sabe na ponta da língua. Aos 68 anos, uma figura de estatura baixa, óculos com lentes grossas, chinelos, bermuda, boné na cabeça e a barba por fazer. Sentado à calçada de sua modesta casa, em uma cadeira de balanço conversamos durante alguns minutos apenas. Só nesse meio tempo foram muitas poesias declamadas.

Dois dias depois nos reencontramos. Ivo estava gostosamente, conversando com uns amigos, à sombra de uma árvore. Sentado no banco de pedra, construído no canteiro de uma das ruas principais da cidade, ele poderia deixar a vida passar sem dar bola para ela. Afinal de contas, quem tem mais direitos sobre a vida do que um nobre poeta? Foi ali naquele momento que comecei a especular sobre a sua vida.

Nasceu em Touros e chegou a Galinhos aos 11 anos de idade. Vive a cidade em todos os sentidos e desfruta das suas belezas, cantando-as poeticamente. Publicou livros alguns em forma de projetos acadêmicos (todos com edições esgotadas). Gerou em mim uma curiosidade, que foi prontamente respondida por ele. Possui todos os manuscritos guardados e registrados, assim garante a preservação do seu trabalho. A cidade também ganha com isso.

Na parede de uma das casas da cidade há um pequeno trecho da poesia escrita por Ivo, numa homenagem a Galinhos. O poeta presenteou a cidade, cantando em versos as maravilhas do local. A natureza encantadora está presente em cada um dos versos descrita de maneira inigualável. Conhecer Galinhos é também manter contato com as pessoas que manifestam a arte e a cultura locais. Conhecer o Ivo e poder ter alguns momentos de prosa com ele me fez ver a cidade além dos olhares de uma turista.